As primeiras parcelas de compensação de perdas do Fundo de
Participação dos Municípios (FPM), maior fonte de receita da maior parte das
prefeituras, não foram suficientes para cobrir as quedas de arrecadação
ocasionadas pela pandemia. Por isso, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) tem articulado junto à comissão mista
que acompanha as ações econômicas de combate ao coronavírus para que seja
estendido o prazo de compensação até dezembro.
O apoio financeiro da União foi estabelecido pela Medida
Provisória 938, que transferiu recursos para as prefeituras e estados para
recompor as perdas do que seria repassado do Fundo de Participação dos Estados
(FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) entre os meses de março
e junho de 2020. Foram disponibilizados R$ 16 bilhões, mas as parcelas
somaram, até aqui, aproximadamente R$ 6 bilhões, deixando de saldo cerca de R$
10 bilhões. A reinvindicação é de que esse montante continue sendo repassado
aos estados e municípios, já que a forte retração da atividade econômica deve
continuar nos próximos meses, o que impacta os recursos transferidos pelos
fundos de participação.
O presidente da CNM, Glademir Aroldi, ressalta que o Projeto
de Lei 1161/20, que estende a compensação até dezembro, já foi aprovado na
Câmara dos Deputados e espera apreciação no Senado. Segundo ele, a perda total
de arrecadação dos municípios em 2020 é estimada em R$ 74 bilhões, sendo que,
até agora, apenas R$ 23 bilhões estariam garantidos nas ajudas federais. A
previsão é que a situação seja ainda pior em outubro, novembro e
dezembro.
“Isso que o governo e o Congresso estão apoiando, e é um
valor significativo, vai representar 30% do que será a queda de arrecadação dos
municípios este ano. Então, se nada acontecer a partir de setembro, a grande
maioria dos municípios terá problema com pagamento de servidores, fornecedores
e terá uma dificuldade enorme nos últimos três meses do ano”, alerta.
O presidente da CNM não acredita que a completa retomada da
atividade econômica ocorra até dezembro, visto que não ainda há vacina para a
doença. “Até o final do ano teremos esse efeito sanfona, quando vamos abrir e
fechar as atividades econômicas e isso, com certeza, impacta negativamente na
arrecadação”, completa Aroldi.
EFEITO CASCATA
O Fundo de Participação dos Municípios é a principal fonte de receita da maioria das cidades brasileiras e é composto por uma porcentagem do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que é repassado aos entes. O município também tem receitas próprias como IPTU, e receitas estaduais, como o ICMS, mas dependem dos repasses do FPM pela União para honrar os compromissos e prestar os serviços à população.
“O FPM é baseado em tudo o que é produzido no Brasil, oriundo da arrecadação da produtividade nacional. Quanto mais se produz, mais se arrecada e, consequentemente, mais a União repassa aos estados e municípios. Então, a queda de produtividade por causa da pandemia afetou diretamente cerca de 80% dos municípios”, aponta o gestor.
O presidente da CNM lembra que em 2019 os orçamentos
apontaram uma estimativa de despesas para todos os entes federados e,
consequentemente, uma previsão de receita. Agora, com a crise econômica, não só
há registro de queda de receita, como as despesas também aumentaram. Diante
desse cenário, Glademir Aroldi cobra que o governo federal recomponha, por
exemplo, o orçamento de assistência social para aliviar a pressão fiscal das
prefeituras.
“A área de assistência social está sendo demandada mais do
que nunca. Infelizmente, muitas pessoas estão perdendo o emprego, trabalhadores
de atividades informais não conseguem trabalhar e não conseguem colocar comida
no prato de suas famílias. E a primeira porta de socorro que ele encontra é a
gestão local. Isso tem aumentado bastante o investimento dos municípios, tanto
na saúde como na área da assistência social”, indica.
Glademir Aroldi enfatiza ainda que, mesmo que a pandemia
seja contornada ou amenizada até o fim do ano, os programas sociais vão ampliar
as atividades para reverter os efeitos provocados pelo novo coronavírus.
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