Por Governo do Pará (SECOM)
A palestra-show deste sábado (27) na 9ª Feira Internacional de Turismo da Amazônia (FITA) promoveu um debate construtivo e animado entre o chef de cozinha paraense Saulo Jennings e a jornalista, pesquisadora e curadora gastronômica paulista Luiza Fecarotta, com um olhar atento ao papel exercido atualmente pelo turismo gastronômico no crescimento da atividade e fortalecimento dos fluxos de visitante, bem como o desenvolvimento da economia local.
"Ninguém vive sem comer. A gente viaja, se locomove e precisa comer. Então se pensarmos como uma necessidade básica do ser humano, por que não transformar isso numa plena expressão de uma cultura e de um povo como um todo? O que nos faz brasileiros? O que nos marca como povo? E a comida é uma dessas expressões mais profundas, nos traduz como brasileiros. É uma forma de entrar em contato com o que a gente é e de contato de uma região para outra. Há um sociólogo que estuda a história da alimentação brasileira que fala em manchas de ingredientes para a gente pensar esse Brasil continente", comentou Fecarotta.
Luiza comentou ainda, que do ponto de vista da comida, não necessariamente existe a fronteira geográfica que o turismo trabalha, delimitada e rígida. "Essas manchas de ingredientes se espalham, com uma outra lógica", disse a pesquisadora.
Para o chef Saulo Jennings é preciso pessoas autênticas para esse turismo gastronômico crescer, sem criar e nem montar nada artificial. "Hoje as pessoas querem ver isso, querem viver essa experiência. Fica a dica. Temos que valorizar todas as pessoas, todo esse trabalho do pequeno e do grande, tudo que for regional, tudo que for autêntico, paraense e amazônico. Eu até brinco de como é fácil surpreender o turista. Tudo nosso é diferente. Tudo nosso tem explosão de sabores, aparências diferentes, texturas diferentes e têm formas diferentes de se apresentar", afirma o chef conhecido pelo restaurante Casa de Saulo.
Luiza Fecarotta complementou com a explicação do processo histórico de formação até o ponto atual. "O início do turismo, lá no pós Segunda Guerra, começa um movimento turístico que são fluxos grandes de deslocamento em uma ação voluntária da sociedade que movimenta a economia. E depois disso há uma segmentação do turismo, do turismo massificado surgem ramificações focados em atrativos da cultura humana e não necessariamente na natureza, quando nasce inclusive o turismo cultural e a partir dele essa singularidade do turismo gastronômico", revela.
Para ela, "a comida convoca todos os nossos sentidos" como olfato que sente o aroma, o sabor do paladar, o estético do que a visão enxerga, tem o tato com o alimento, a audição captando o ambiente alimentar. "Mexe com uma área subjetiva da gente que é muito profunda também. Por meio da comida podemos viver uma experiência extremamente profunda e que vai alcançar todos esses elementos", garante.
Destacando a atividade, Saulo Jennings pontuou a importância de um trabalho conjunto, envolvendo todos os atores no processo do fazer. "Na verdade, eu digo que tenho até a bandeira. Apesar de ter um restaurante grande, a minha bandeira são os pequenos. São as pessoas que estão fazendo o trabalho lá na ponta, porque o turismo começa com o nosso povo lá no bairro, na cidade, no estado. Aqui é bom, aqui se faz turismo, então se não for assim, a gente realmente não consegue trazer pessoas de fora. Nós somos os nossos maiores propagandistas. Valorizar essa pessoa que está lá na ponta, que é a tia do tacacá, do peixe frito, do açaí... levar isso para dentro do restaurante já é uma consequência, o trabalho base é deles", concluiu.
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